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Mãos no barro - para iniciantes

O que é o barro?
Antes de começar, vamos saber um pouco sobre esta matéria.

O barro é apenas terra; no entanto não é uma terra qualquer, é uma terra argilosa. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que as partículas que compõem este tipo de terra são muito, muito, mas muito pequeninas! Por isso quando juntamos água a esta terra argilosa, as partículas ligam-se tanto que ficamos com uma pasta modelável que mantém a forma que lhe dermos.

Outra coisa gira sobre o barro, ou seja a terra argilosa, é que quando seca não só muda de cor como também endurece e ainda por cima encolhe! Porquê? Porque quando o barro seca a água evapora e por isso ele contrai e fica duro. Apesar de estar seco, continua a ser barro! Aliás, se lhe juntarmos água ele volta a ficar mole… É assim que reciclamos o barro.
Mas então porque é que a loiça feita de barro que temos em casa não se desfaz debaixo de água? Porque essa loiça já foi ao forno, a uma temperatura muito alta, e o barro transformou-se em cerâmica! Ou seja, quando o barro seca fica duro, mas só quando é cozido acima dos 600ºc. é que se transforma em cerâmica e o seu endurecimento se torna definitivo.

Trabalhar com barro

Podemos trabalhar com o barro em qualquer local, basta uma mesa, um recipiente com água e um pano para limpar as mãos. Não é um trabalho barulhento, poluente nem demasiado sujo; pelo contrário, só nos faz bem.

A melhor ferramenta para trabalhar com o barro são as nossas mãos. Quando precisamos de outras ferramentas, quase sempre podemos encontrá-las em nossa casa, vamos à cozinha e começamos a improvisar!

Para começar o trabalho só precisamos de saber duas coisas:

- A primeira coisa é que o barro cola-se à mesa se trabalharmos diretamente em cima dela, por isso devemos trabalhar sobre um papel, plástico ou pano.

- A segunda coisa é muito importante para que o nosso trabalho não se estrague durante a secagem. Como já vimos, o barro encolhe quando seca. Então, devemos controlar a secagem de forma a que a peça seque e encolha de forma uniforme. Ou seja, se fizermos por exemplo um cesto de barro, com uma alça fininha, e se deixarmos a peça toda destapada a secar ao ar, o que é que vai secar primeiro? A alça fininha. Como o barro encolhe quando seca, se a alça secar primeiro vai encolher primeiro do que o resto da peça, e provavelmente vai partir. Resumindo: devemos tapar com um plástico as partes de uma peça que estão mais expostas ao ar e terão tendência para secar mais rapidamente. O objetivo é fazer com que a peça encolha toda ao mesmo tempo, e para isso queremos acelerar a secagem das partes mais grossas de uma peça e atrasar a secagem das zonas mais finas.

Sabendo isto, podemos soltar a imaginação e modelar o que nos apetecer!


Estado de couro é o nome dado ao barro que já começou a secar, ou seja já não está mole e modelável, mas ainda contém água. Neste ponto o barro tem uma consistência parecida com o queijo, sendo que o conseguimos cortar sem que ele se deforme, mas se o dobrarmos ele parte. É uma fase importante da secagem de uma peça, pois já podemos tirá-la de um molde ou virá-la ao contrário sem que ela perca a sua estrutura. Ao mesmo tempo, podemos cortar e colar partes, mas não dobrar. Se cravarmos a unha num bocado de barro em estado de couro, ela fica marcada; se já não ficar marcada é porque o barro já não está em estado de couro, mas sim seco.

O ponto de couro não é um momento exato; o barro no início da secagem começa por estar num ponto de couro mole e à medida que vai secando e endurecendo vai passando para um estado de couro duro, até que acaba por endurecer completamente ao ficar seco.

O estado de couro é o momento certo para a realização de várias técnicas de decoração, desde pintura com engobes, cortes e colagens, acabamentos, entre muitas outras.


Lambugem é o nome dado ao creme que utilizamos como cola, para colar diferentes partes de uma peça de barro que estejamos a modelar. A lambugem é um líquido cremoso que obtemos quando juntamos mais água ao barro, ou seja é simplesmente o próprio barro, mas com mais água. Devemos fazer a nossa lambugem a partir do barro com que estamos a trabalhar, isto é, esta cola deve ser feita com o mesmo barro que vamos colar, de forma a que a contração seja compatível.

Chamamos barbotina a este mesmo creme quando está num estado um pouco mais líquido (como um leite espesso) e é utilizado no enchimento de moldes de gesso. Pode ter algum desfloculante adicionado para melhorar o desempenho.

Um engobe é também um barro líquido, que neste caso serve para pintar o barro quando ele está em estado de couro. Um engobe natural é simplesmente um barro diluído em água, cuja cor final será a cor dessa argila. Um engobe natural passa a ser um engobe elaborado quando lhe é adicionado algum pigmento (óxidos metálicos ou corantes) que vai alterar a cor dessa argila. Como cada argila tem características diferentes, nomeadamente contrações diferentes, devemos sempre fazer o nosso engobe a partir do mesmo barro onde o vamos aplicar. Ou seja, se trabalhamos com um barro branco, é a partir desse barro que fazemos o nosso engobe.


Resumindo: Lambugem, barbotina e engobes são barros líquidos, com diferentes funções e utilidades e com ligeiras diferenças entre si.


Como cozer o barro?

O barro precisa de ultrapassar os 573ºc. para ficar cozido; a esta temperatura ocorre uma reação química que transforma o barro em cerâmica. Apesar da opção mais comum seja cozer o barro em fornos próprios para cerâmica, também é possível construir um forno em casa (num pátio ou varanda porque vai fazer fumo) ou até mesmo cozer as peças numa lareira, fogueira ou salamandra. Quando o barro está incandescente está a passar a meta dos 600ºc.!

Atenção: Se colocarmos numa lareira, fogueira, etc, um bocado de barro que não esteja completamente seco, este vai rebentar e pode causar danos e estragos, por isso não devemos experimentar cozeduras caseiras sem estarmos devidamente informados e preparados.


Pintura com engobes

As peças terminadas podem ser pintadas com engobes. Chamamos engobe a uma tinta feita com barro diluído em água. Assim, um engobe é feito a partir do próprio barro, ao qual podemos adicionar pigmentos de forma a obter outras cores. Assim como o barro, os engobes mudam de cor quando secam e, principalmente, depois de cozido. Ou seja, um engobe azul pode ser cinzento em cru e só depois de cozermos a peça é que fica azul.


É importante aplicar os engobes sobre uma peça ainda mole ou, de preferência, em estado de couro. Isto porque se o engobe é feito de barro, também vai encolher quando secar, por isso precisa de encolher juntamente com a peça de barro.

Vamos imaginar o que acontece se pintarmos uma peça que já está seca. Se a peça já secou, quer dizer que já encolheu e por isso não vai encolher mais. O engobe, por outro lado, sendo barro com água, ainda vai encolher depois de o aplicarmos nesta peça seca. Neste caso o que vai acontecer é que o engobe não fica bem agarrado à peça e vai acabar por se descascar e descolar à medida que for secando e encolhendo. Por isso é importante pintar a peça antes dela secar.


É possível que um engobe tenha de ser aplicado mais do que uma vez. Pode acontecer que depois de pintar a primeira camada, ainda se note a cor do barro e a tinta não fique com uma boa cobertura. Devemos esperar até que se liberte alguma água, ou seja até que o engobe perca o brilho, e depois voltamos a pintar. Às vezes é preciso pintar duas ou até mesmo três camadas de engobe.

Para evitar esta situação, pintamos a peça quando ela está mesmo em estado de couro, em vez de quando está ainda muito mole. Se estiver em estado de couro, a superfície vai absorver e agarrar mais engobe; enquanto que se estiver muito mole, como tem mais água, é menos absorvente.


E agora?

Quando a peça está totalmente seca, está pronta para ser cozida, tornando-se uma peça de cerâmica. Como já foi dito, há várias maneiras de cozer uma peça. A mais fácil é levá-la a um atelier ou loja de cerâmica que possa cozer a peça num forno próprio para cerâmica. E cada peça é uma nova surpresa.